Sínodo do Cadáver
Este artigo é relacionado à história.
Lembre-se que o cangaço não predominou em todo o Nordeste. |
O Sínodo do Cadáver foi um dos momentos em que a igreja católica conseguiu condenar uma pessoa que já estava morta. Ao longo da história eles fariam isso diversas vezes, como durante o Concílio de Constança (1414-1418), quando ordenaram pegar os ossos do já a mais de anos morto John Wycliffe e os tacassem num rio pra desafogar o cemitério condenar até o cadáver dele à danação eterna. Porém se há um momento em que possivelmente todo esse tesão por condenar gente que já morreu e nem podia mais dizer "pô, eu não fiz nada!" foi aqui.
Em janeiro de 897, o Papa Formoso compareceu a um julgamento onde ele era o réu principal, sentado no trono papal todo vestidinho de papa, sendo julgado pelo papa Estevão VI (ou VII, sério, tem uma confusão até nisso aí). O problema é que Formoso, que de formoso já não tinha mais nada, já tinha uns nove meses que tinha batido continência pra Dona Morte. Com isso, o Sínodo do Cadáver, também chamado de Concílio Cadavérico, Julgamento do Cadáver ou Synodus Horrenda na língua dos caninos, foi um dos episódios mais stand-up comedy da história do catolicismo romano, se pá a mais bizonha de todas.
Contexto da historinha[editar]
O período onde está inserido o Sínodo do Cadáver e vários eventos anteriores que meio que justificaram (ou não) essa patifaria está em torno de 872 a 965, dentro do qual foram inacreditáveis 24 papas, e essa instabilidade era ou fruto de tretas políticas ou de pura putaria (ver pornocracia pra mais detalhes). O Formoso era bispo de Porto (cidade portuga que naquele tempo ainda pertencia a algum dos pedaços do que seria a Espanha), mas ajudou a arrecadar fundos pra "Santa Sé" convertendo os búlgaros. A ideia era que ele fosse pra lá pegar os dízimos pessoalmente e os usar pra s... ops, remeter pra Roma pessoalmente, só que tinha umas normas que proibiam isso desde o Segundo Concílio de Nicéia, e aí ele não podia simplesmente sair de Porto pra Bulgária.
Após a ascensão do papa João VIII começou umas picuinhas com Formoso, onde acusaram o manolo de estar fazendo a cabeça dos búlgaros pra eles não aceitarem nenhum bispo enviado por Roma, já que ele queria de todo jeito a grana dos novos crentes. Até inventaram que ele queria matar Carlos, o Calvo, rei da França e leão-da-chácara do Papa. Formoso sofreu assim excomunhão e não deveria ter mais direitos religiosos nunca mais. Porém alguns anos mais tarde em 882 João VIII foi se encontrar com seu Senhor o satanás e Formoso voltou a ser bispo assim como se nada tivesse acontecido graças a um belo suborno uma iluminação divina. Pouco depois ele conseguiu mais que isso, foi eleito Papa em 891.
No ano seguinte, Formoso ungiu Lamberto de Espoleto co-regente do Sacro Império Romano-Germânico junto com o papito dele, Guido III de Espoleto, que tinha sido ungido pelo João VIII. Com medinho de o Guido dar uma de papai ciumento e tentar fuder com a cara do papa (não literalmente tá!) chamou o rei da França Arnolfo de Caríntia pra invadir a Itália. Após duas invasões, a primeira bem desgraçada e a segunda triunfante, Arnolfo derrubou os dois Espoletos porque as espoletas deles estavam só a espoleta, sem bala nenhuma e assim Arnolfo que vira o novo imperador do Sacro Império. Porém pouco depois em 896 tanto Formoso quanto Arnolfo vão pra morada eterna deles o quinto dos infernos e o papa Bonifácio VI assume o trono de papa, ainda que só por uns meses, morrendo em circunstâncias misteriosas. Aí Lamberto Espoletinha volta a ser imperador e aparentemente mandou o Estevão VI (ou VII) a fazer um julgamento contra o finado Formoso. Já há quem acredite que na verdade o Estevão fez tudo da cabeça dele mesmo, provavelmente por invejinha do Formoso por ele ser mais formoso que ele, vai saber...
O julgamento[editar]
Em janeiro de 897, na Basílica de São João de Latrão, Estevão convocou todos os cardeais italianos e próximos, além de convocar o Formoso, ainda que já em estado cadavérico e decomposto. No julgamento, Formoso foi vestido de papa, ao passo que Estevão se vestiu de promotor da igreja (isso bem antes da Inquisição existir, por isso nem sei bem como diabos era esses processos pré-inquisitórios). Pra responder pelo finado, colocaram um cardeal vestido como testemunha ou algo assim, porém o dito cujo foi orientado desde o princípio pra o tempo todo declarar a culpa e dolo do cadáver.
Acusado de violar o direito canônico, de falso testemunho, de dar um olé na excomunhão virando bispo e posteriormente papa, além de ter feito apostas no jogo do bicho e ter comido a tia do Estevão VI (ou VII, porra, que confuso isso!), o pobre diabo foi condenado, tendo suas vestes arrancadas de si, arrancado dele os três dedos que usava pra coçar o próprio cu emanar bênçãos pra galerinha, declarando tudo que ele ordenou inválido (curiosamente isso incluía a unção do próprio Tevinho a bispo de Anagni) e tacaram o corpo dele com pesos pro fundo do Rio Tibre.
A merda que se deu depois[editar]
O povo ficou tão puto com o ocorrido (em especial por terem comparecido a esse julgamento e ficado por uma semana com catinga do cadáver do Formoso) que começaram a acusar o Estevão de maluco (errados não tavam). Chegou até a circular um lero-lero que tinha gente indo tomar banho no rio Tibre e voltando curados supostamente porque o rio tinha sido abençoado pelo santo Formoso. Essa revolta toda levou aos próprios cardeais deporem Estevão e o jogarem numa prisão, onde lá dentro ele foi estrangulado em, advinha, circunstâncias misteriosas...
Seu sucessor, papa Teodoro II, em 897 ainda convocou outro sínodo que anulou aquela porra toda e mandou recuperarem o cadáver do Formoso, que foi enterrado por fim na Basílica de São Pedro e ninguém mais removeu. O papa seguinte, João IX, reafirmou tudo que Teodoro tinha dito, inclusive destruindo a ata do sínodo do Cadáver e dizendo que dali em diante ninguém morto seria novamente julgado. Seria uma pena se o papa Sérgio III (o primeiro dos papas da era da putaria) simplesmente reabilitasse o sínodo (que ele inclusive foi um dos juízes), reafirmando tudo que titio Estevão VI, VII, foda-se a ordem, tinha dito antes, mas ao menos dessa vez ninguém pegou o cadáver do Formoso (ainda bem), apenas fez elogios no epitáfio do Tevinho e dando margem pra futuras condenações de gente já morta e enterrada.
Ver também[editar]
- Damnatio memoriae, o precedente do Direito Romano que deu origem a essa aberração jurídica;
- Pornocracia, período posterior ao desse julgamento, mas que era tão maluco e fodido (literalmente inclusive) quanto o que gerou esse episódio dantesco.